O papel materno em nossa autoimagem
- Mayane Humeniuk
- 11 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de nov. de 2021
Em uma conversa muito produtiva com a psicóloga Monique Farber, dissecamos como, afinal, nossas mães podem influenciar na construção da nossa auto estima e visão do próprio corpo.

Quando eu tinha 5 anos, eu já era gorda. Não fiquei gorda por comer muito e nem por alguma razão patológica, aquele era meu biótipo, ainda é: hoje, com 21 anos, ainda sou gorda.
Minha mãe cresceu com a mentalidade de que uma bela moça deve ser magra. Não sei dizer se, de certa forma, seus pais a ensinaram isso diretamente ou se isso foi apenas uma construção social que eles apoiaram. Meus avós eram da roça, cheios de filhos, filhas, para ser exata, dos seis filhos, apenas dois eram meninos. Prosseguindo no relato sobre minha mãe, antes de mim, que sou a caçula, minha mãe criou outras três garotas. Vanessa, Jessica e Mayara. Jessica foi uma criança e pré-adolescente gorda. Mamãe costumava projetar em mim tudo o que Jessica havia passado sendo uma criança acima do peso. Para mim, foi uma experiência um pouco traumática.
Me lembro de querer comer uma besteira ou outra e ser convencida a não fazê-lo – ou não convencida, mas carregando uma extrema culpa ao fazer – com um típico discurso: “Sua irmã sofreu muito não achando roupas do tamanho dela, não quero que isso aconteça com você!”. Hoje, aos 21 anos, eu sei que minha mãe nunca fez isso, e outras coisas que, de certa forma, me machucaram, por querer.
Monique Farber, psicóloga engajada em causas que envolvem preconceito e gordofobia, que conversou comigo através de uma live super legal – e que você pode encontrar lá no nosso Instagram –, explicou que os pais, e em destaque as mães, apenas repassam um discurso de opressão que as seguiu durante toda a vida. “Essas mães precisam de ajuda para se desconstruir desses padrões e criarem seus filhos de forma saudável!”, diz Monique.
A psicóloga introduziu em nossa conversa também o papel de exemplo que as mães têm quando falam do próprio corpo e aparência: “Se a criança vê a mãe falando que não gosta do próprio corpo e que o corpo é feio, o que a criança vai pensar do próprio corpo na infância e no futuro?”. Esse tipo de experiência é muito comum e também catalisada pela pressão estética que as mulheres sofrem tão veementemente. Durante nossa conversa, falamos também o quanto é quase cruel que cobrem de mães que acabaram de dar a luz que elas “recuperem” seu corpo anterior à gravidez.
Esse tipo de pressão acaba também afetando crianças e esse pensamento se incute em nós por anos, o que pode ser muito traumático.
Por outro lado, existem também as mães que protegem demais. Quando conversamos sobre bullying e como uma mãe deve lidar com isso, Monique disse que as mães devem ajudar sim, mas que as crianças têm que aprender a lidar com esse tipo de situação, também, para que aprendam a se defender sozinhas. “Esse é um trabalho de fortalecer a auto estima dos nossos filhos, o problema está nas pessoas que fazem a violência? Está. Mas o problema também está nas pessoas que acreditam nela”.
Está aí a tamanha importância materna, nosso primeiro e quiçá único ninho da vida inteira, em nos ajudar a entender que somos bonitos e bons do jeito que somos. A psicóloga fala da importância de sermos sinceros com as crianças sem ofendê-las, e uma participante muito especial da live deixou registrada uma frase super importante no que toca à construção do que a criança entende como belo e bom “Eu não gostei, mas você gostou?”.
Mais essencial do que fortalecer a auto estima da criança e não impor a ela padrões impossíveis, no entanto, é educar essa criança para que ela não seja canal de traumas para outras. Trabalhar o caráter de uma criança para que ela não seja preconceituosa e maldosa é um dos principais e fundamentais papéis dos pais e muitos ainda falham nisso. Por isso, é válido deixar o lembrete: não imponha intencionalmente em uma criança suas falhas de caráter, elas podem, um dia, se virar também contra você.
Entenda que crianças são esponjas de conteúdo e informações, elas acreditam no que os pais dizem, elas os tomam como exemplo, elas acham belo o que os genitores dizem que é belo e feio o que dizem que é feio. É papel dos pais não transformar essa experiência, mais tarde, em uma ferida.
Comentários