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Porque o efeito sanfona me traz tanto medo:

  • Foto do escritor: Mayane Humeniuk
    Mayane Humeniuk
  • 12 de nov. de 2021
  • 2 min de leitura

Desde pequena, também sou acometida pelo medo dessa “aberração” corporal, em um âmbito muito mais psicológico do que físico.



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Desde criança, esse termo tinha um peso inexorável na boca das mulheres e da mídia ao meu redor: efeito sanfona. O assunto sempre foi tocado com um pouco de medo e receio, imagina só emagrecer para engordar novamente? Existe derrota pior na vida de uma mulher?


Eu cresci com medo de emagrecer e engordar de novo, e isso ainda me assusta hoje, por motivos diferentes. Quando eu era mais nova, o engordar era assustador, não conseguir me manter em disciplina e voltar para um estado “feio” de estética. Hoje, isso ainda me assusta, não vou mentir. Eu já passei pelo processo de emagrecer e engordar, de forma não tão agressiva, mas passei, e aquele receio chamado engordei demais desde a última vez que vi essa pessoa, e agora? sempre me assombra.


Meu maior medo, no entanto, é do que vou pensar sobre mim mesma. Hoje, eu vejo esse processo de tentar emagrecer, conseguir emagrecer, engordar de novo, ficar triste, tentar emagrecer, engordar, emagrecer, engordar, como um processo triste. Ter esse sentimento sobre si soa como a pior coisa existente. Me parece com uma eterna frustração, e então eu penso: como ser feliz vivendo eternamente insatisfeito com isso? Uma vida toda baseada em não conseguir se manter da forma como, esteticamente, me ensinaram a ser?


Emagrecer, quando você precisa, deve ser maravilhoso. Me deixa ansiosa, no entanto, precisar emagrecer um dia — como, na verdade, depois dessa quarentena incrivelmente sedentária, realmente preciso e realmente me sinto ansiosa — mas nunca conseguir me manter assim. A minha frustração não é engordar, é nunca ter estabilidade.


É por isso que as mulheres, principalmente, devem ser ensinadas a não buscar por métodos de emagrecimento desesperados, que as farão voltar para o peso que odeiam muito rápido, já que não conseguirão manter esses hábitos. Manter um corpo é hábito, todo mundo sabe, para nós, pessoas gordas, manter um peso saudável é hábito também, e a gente só consegue mantê-lo se sente ao menos um prazer nisso.


O meu medo é também não sentir prazer algum no processo de emagrecer e manter um bom nível de gordura no corpo, e é por isso que sinto receio e tristeza pelas mulheres que passam a vida enclausuradas nisso. Em um eterno sacrilégio.


A solução, ao que parece, é quebrar essa cultura de emagrecimento desesperado e rápido, que as mulheres vivem e vivem reproduzindo para si mesmas, porque esse tipo de emagrecimento também não é saudável e, claramente, não efetivo. Talvez, a educação alimentar pudesse ter mais papel na infância, no ensino formal mesmo, e seu ensino teria a chance de amenizar muitos problemas criados através de complexos alimentares e de aparência.


Mas mais do que como um problema biológico, o efeito sanfona deve ser reconhecido e tratado como um problema psicológico. A cessão da busca pelo corpo perfeito, por mulheres comuns e sem condições de muito investimento na própria aparência, chegaria como a solução de um problema que nos assombra há tanto tempo.

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