Vida amorosa para pessoas gordas, como?

A influencer Karine Schlinchting nos contou um pouco dos altos e baixos de seu relacionamento sendo uma mulher gorda.

Foto por Wallyson Avancini

Sendo uma pessoa gorda, o tópico namoro sempre foi extremamente sensível para mim. Ainda hoje é difícil tomar iniciativa quando gosto ou quero só beijar uma pessoa e, por isso, não tive muitas experiências amorosas nessa vida.

Eu diria que o fato de ser gorda tem relação direta com isso? Sim. Não acontece com todos, mas a insegurança nessas horas é enorme. Sabe quando naquele filme de comédia adolescente alguém prega uma peça na pessoa gorda e só fica com ela por conta de uma aposta? Esse tipo de situação gruda no nosso subconsciente de forma ridícula quando somos pessoas gordas crescendo e nos interessando romanticamente e, mesmo que pareça cômico, às vezes achamos que estamos em situações assim.

O namoro e a relação sexual para a pessoa gorda é ainda, obviamente, um tabu.

Mesmo assim, felizmente, muitas pessoas conseguem transpassar essa barreira e desenvolvem relacionamentos muito bonitos e saudáveis, que vão muito além de aparência ou padrão do que é ou não um casal esteticamente aceitável.

A influencer plus size, Karine Schlinchting, de 22 anos, é uma delas. Em uma conversa super interessante com ela, falamos sobre como se empoderar diante de situações de gordofobia, como lidar com a pressão estética que impomos sobre nós mesmos e, principalmente, como essa pressão pode nos afetar em relação à vida amorosa.

Karine, que hoje possui dezesseis mil seguidores no Instagram e é um verdadeiro estouro no Tiktok – com vídeos com um milhão de visualizações – faz sucesso falando sobre ser plus size e mostrando seu dia-a-dia. Assunto recorrente em seus vídeos é o seu relacionamento de dois anos, com o jornalista Vinicius Sales.

“Eu sempre me relacionei com meninos magros, não porque prefiro caras magros, mas porque rolou. Eu sempre deixei rolar”, ela diz. O fato de Karine e o namorado terem um grande contraste físico, obviamente, já gerou comentários desagradáveis e desnecessários, mas nessa jornada de autodescoberta e auto amor, Karine aprendeu a lidar com muita coisa.

Screenshot de nossa conversa

Um dos episódios aconteceu no Tiktok, local onde ela costuma expor mais de sua vida para interagir com os fãs. “Recentemente eu fiz um vídeo em que eu falava da evolução do meu namorado, como ele foi mudando ao longo dos anos e como se tornou mais bonito, tudo isso eu falava de uma forma engraçada, aparecendo no vídeo. Recebi vários comentários que diziam coisas como ‘se ele melhorou tanto assim, por que você não melhora para ele também?’”.

Karine conta que o namorado fez o mesmo tipo de vídeo, ganhou mais visualizações e recebeu comentários que o colocavam quase como um herói, “que legal da parte dele namorar essa garota gorda!”.

O corpo gordo ainda é visto como desleixado e, talvez, essa seja uma das maiores barreiras para mulheres gordas ao se abrir e se relacionar com outras pessoas, principalmente para as heterossexuais.

“Eu tinha um trato com o Vinicius: ele só me pediria em casamento quando eu estivesse magra. Agora eu deixei essa ideia boba de lado, quero casar gorda mesmo, e é melhor ele fazer esse pedido logo porque eu estou emagrecendo!” Karine brinca, fazendo referência a um plano de exercícios em casa que está participando com a família e seguidores. “Essa é quem eu sou, sempre fui assim, por que tentar ser outra pessoa para viver esse momento importante?” complementa.

Karine também falou sobre como a gordofobia – que ela tem vivido atualmente na pele, na loja de roupas que trabalha –, a fez despertar não para mudar sua imagem, mas para investir nela como mulher gorda e linda. “Eu não esperava que as pessoas pudessem fazer isso depois de adultas, e eu aproveitei a gordofobia que estou constantemente sofrendo, para investir na minha imagem gorda”. Foi assim que Karine começou a trilhar esse caminho como influencer digital, hoje possuindo até parcerias com marcas.

Ela me contou também, como esse processo foi importante para que ela finalmente gostasse de seu corpo gordo: “eu nunca fui magra, mas só recentemente, nesse momento em que eu estou mais gorda do que nunca estive, eu aprendi que essa sou eu e que se eu não me aceitar, ninguém vai!”

Por fim, quando peço a ela um conselho para pessoas gordas que têm receio em começar uma vida amorosa – eu inclusa –, ela diz: pare de analisar o físico! Para Karine, o físico não é o que pode decidir com quem devemos ou não nos relacionar, se sentir confortável e amado é o essencial. Quanto mais decidimos com quem vamos nos relacionar baseado somente na aparência física, mais decidem isso por nós também.