Conheça @jessicando_: influencer interiorana, de pensamento próprio e vontade arrasadora

Jéssica Oliveira é um nome crescente entre a militância gorda do Instagram, mas tem opinião forte e ideias próprias.

Foto por Taffarel Felipe

Para cerca de 23.500 pessoas, Jéssica Lopes de Oliveira é @jessicando_, uma influencer local, de Bandeirantes-PR, que vem criando público nas redes de forma quase não intencional. Em 2019, quando voltou para a casa dos pais e acabou sendo pressionada por conta do peso, ela começou a compartilhar seu cotidiano nos stories, “as pessoas foram chegando”, ela conta. O número do começo do parágrafo é atualmente a quantidade de seguidores que ela possui no Instagram.

Depois de uma vida inteira de gordofobia, aos 26 anos Jéssica teve a grande realização que mudaria sua vida: não faria mais dietas, não continuaria submetendo seu corpo ao vai e vem não saudável do efeito sanfona.

“Mesmo que aos 26 eu tenha percebido que não precisava me sujeitar a isso, nem esse estalo de clareza é imediato. A internet é um lugar de faz de contas, porque ninguém está sempre 100% bem”. A influencer entende que o processo de aceitação e amor ao próprio corpo é muito longo e às vezes dura a vida toda. Ela conta que desde que decidiu parar com as dietas, entrou em uma constante de se chamar de linda cotidianamente, até se convencer. Hoje, aos 30, ela diz que o processo deu certo.

Jéssica, como a maioria dos adultos com corpos gordos, já tinha o que chamamos de “sobrepeso” na infância, mas seguindo o padrão de tratamento para quem nasceu entre os anos 1980 e 2000, já era chamada e tratada como gorda. “Quando criança eu não era gorda, mas era tratada como gorda. Os anos 2000 foram a época mais gordofóbica possível!”. De 2003 a 2019, segundo o IBGE, a proporção de gordos entre a população adulta dobrou. No começo dos anos 2000, a cultura pop começava a colocar mais em voga a existência das modelos e do padrão americano de beleza: magra, loira e bronzeada.

Esse padrão ainda existe hoje, com suas adaptações, é claro, mas continua sendo um sonho impossível para muitas crianças e adolescentes.

Falando de padrões, Jessica é uma das influencers gordas que lutam contra a trend do “esconde/valoriza” que roda entre esse nicho. Não sabe o que é? Calma que vamos te explicar!

Muitas pessoas do meio do body positive e aceitação corporal tentam mostrar aos seus seguidores que tipos de roupas os faria ter a auto estima aumentada. Acontece que a forma como fazem isso é um pouco… duvidosa. Normalmente, a influencer tira uma foto usando um camisão, vestido ou qualquer coisa um pouco mais larga, tomando uma postura “derrotada” — cabisbaixa, ombros caídos, expressão triste — e não fazendo uso de nenhum acessório. Já a outra foto postada, para comparar com a primeira, tem a influencer usando um cinto, ou a camisa para dentro da calça, com acessórios como bolsas, óculos e pulseiras… Sorrindo!

A primeira foto é o esconde, a segunda o valoriza. Jéssica percebeu que aquela prática tinha um quê de tentativa de se encaixar no padrão, principalmente quando se viu pressionada a fazer igual: “Olhei para uma dessas postagens e coloquei automaticamente a camiseta para dentro dos shorts”.

Jéssica apontou algumas problemáticas a respeito dessa trend, como o fato de que essas influencers acabam sendo relapsas em algumas questões. “Às vezes as pessoas não veem o mal que estão fazendo para quem não têm condições de comprar esses acessórios. Sem falar que o que nos valoriza não é a roupa e nem a atitude, é o se gostar, parece que a pessoa gorda tem que estar sempre valorizada”.

Apesar da boa intenção de quem faz esse tipo de post, precisa existir também a consciência de que essa é uma forma de encaixar o guarda-roupa gordo em um padrão de beleza, “já vi pessoas que trabalham dentro de marcas dizendo que quando colocam gordas maiores para modelar, não vendem”, a influencer conta.

Jéssica nos contou também sobre alguns episódios ruins que passou durante sua jornada pelo Instagram e Tiktok. Ela já teve fotos postadas em outras páginas e insultada, comentários ruins em suas fotos, entre outros episódios; ela destaca o dia em que postou um Tiktok sobre o fato de que pessoas comemoram o próprio emagrecimento na internet como se o corpo gordo fosse uma derrota, “eu fiz esse conteúdo porque antes também tinha essa ideia. Meu sonho era fazer aquela foto em que a pessoa coloca as duas pernas em uma das pernas da calça que usava quando gorda”.

Nesse dia, as pessoas acabaram a ofendendo na rede social, mas ela fez o simples trabalho de ignorar e seguir em frente, e seu pensamento continua o mesmo. “As pessoas têm medo de enfrentar que são gordas. Sendo magro, pelo menos você está sendo aceito pela sociedade”, ela comenta sobre as pessoas que emagrecem e acabam odiando corpos gordos.

Para ela, as pessoas devem entender que a pessoa gorda pode emagrecer se quiser, mas sem odiar o corpo que tem no momento. O segredo é emagrecer com amor, cuidar do corpo com amor, e ver o exercício físico como algo que você gosta, não uma obrigação. “Nós costumamos ver os exercícios como uma punição ao nosso corpo gordo, mas não precisa ser assim”.

Quando peço, enfim, para que ela resuma em uma frase sua luta com a aceitação corporal, ela diz: a vida já é difícil, se você não puder ter seu próprio apoio e amor, nada rola!

“Eu já pensei várias vezes: nossa, tem tanta gente fazendo esse tipo de conteúdo, eu sou só mais uma. Mas sempre nesses dias aparecia alguém falando o quanto meu conteúdo melhorou seu dia, isso me fez continuar”.